Controle biológico de insetos transmissores de doenças
o caso de Diaphorina citri por Tamarixia radiata, um novo procedimento
Por José Roberto Postali Parra, Departamento de Entomologia e Acarologia, ESALQ/USP.
O controle de insetos transmissores é difícil, mesmo quando se utilizam inseticidas químicos, desde que quase nunca o controle do vetor chega a ser de 100% e os insetos que sobrevivem irão transmitir a doença.
No caso dos citros, onde o HLB ou “greening”, resgitrado no Brasil desde 2004, é a principal doença bacteriana da cultura, transmitida pelo psilídeo Diaphorina citri (um hemíptero que era da família Liviidae e voltou a ser Psyllidae), o controle do vetor é feito com inseticidas químicos ao longo do ano em pomares comerciais. Tais aplicações resultam em alta mortalidade dos psilídeos, não evitando, entretanto, a ocorrência da doença em níveis alarmantes.
De onde vieram os psilídeos para veicular a doença? Trabalhos de epidemiologia constataram que os focos de contaminação vêm de pomares abandonados (devido à ocorrência do HLB), áreas de murta (Murraya paniculata, planta hospedeira do vetor), áreas orgânicas e áreas de “fundo de quintal” (que abrigam plantas cítricas) nas circunvizinhanças dos pomares comerciais, de onde os insetos infectados podem migrar a distâncias de 1,5 Km.
Assim, iniciaram-se os estudos para controlar a praga nestas áreas mencionadas, que, segundo levantamentos realizados, correspondem a 12.000 hectares, no Estado de São Paulo, por meio do parasitoide eulofídeo Tamarixia radiata, referido no Brasil em 2006, em Piracicaba.
Após os estudos inter e multidisciplinares da praga e do inimigo natural, chegou-se à possibilidade de criação em larga escala do parasitoide, hoje produzido por biofábricas (10-12) em São Paulo e no Paraná.
Os parasitoides hoje fazem parte do Manejo Externo do HLB, ao lado de outras 9 medidas (10 “mandamentos”) recomendados para o controle do “greening”, atendendo às exigências de uma Agricultura Sustentável, que devem ser atendidas por um país exportador de suco de laranja, como o Brasil.
Até muito pouco tempo, liberavam-se 400 vespinhas de T. radiata por hectare, seguindo uma recomendação do México, liberação esta feita nas bordas do talhão.
Recentemente, em 2019, foi feito um trabalho de Dissertação (Denis Rogério Marin, orientado pelo Dr. Haroldo Xavier Linhares Volpe e coorientado pelo Dr. José Roberto P. Parra), onde estabeleceu-se um protocolo para a liberação do parasitoide, já adotado pelo Fundecitrus e por unidades produtoras.
Tal protocolo prevê a liberação de 3.200 T. radiata por hectare, em 56 pontos, com 57 vespinhas por ponto de liberação, considerando-se um raio de dispersão de 7,5 m do parasitoide. Se as plantas (cítricas ou murta) estiverem aglomeradas a uma distância de 7,5 m, deve-se liberar 57 vespinhas por árvore.
Os resultados de controle chegam a ser de 75% e existe um estudo de zoneamento da praga e do inimigo natural, baseando-se em brotações (local de postura de D. citri) e nas exigências térmicas e hidrométricas do ambos[1] e nele definiram-se os períodos do ano favoráveis à liberação do parasitoide, considerando-se a presença da praga (devido às brotações) e a coexistência da praga e do inimigo natural. Um aplicativo em desenvolvimento poderá favorecer a utilização do parasitoide pelo agricultor no Estado de São Paulo, indicando as épocas mais favoráveis para a liberação (ver esquema). Trata-se de um novo procedimento em controle biológico a ser seguido pelo mundo científico.
[1] GARCIA, A.G.; DINIZ, A.J.F.; PARRA, J.R.P. A fuzzy-based index to identify suitable areas for host-parasitoid interactions: case study of the Asian citrus psyllid Diaphorina citri and its natural enemy Tamarixia radiata. Biological Control, n.135, p.135-140, 2019.